Teste Schaefer 660: navegamos na nova lancha de 66 pés do estaleiro Schaefer Yachts
Desde a sua primeira apresentação pública, que aconteceu no São Paulo Boat Show 2019, a Schaefer 660 caiu rapidamente no gosto dos fãs do estaleiro Schaefer Yachts, criado em 1992 e já com mais de 3 500 barcos na água.
Evolução do modelo Schaefer 640, esta nova 66 pés (20,12 metros) se destaca tanto pelos espaços amplos quanto pela aparência. “Trata-se de uma lancha totalmente nova, e não uma versão alongada de sua antecessora”, afirma o empresário e projetista Marcio Schaefer, presidente do estaleiro que tem sedes nas cidades de Palhoça e Biguaçú, em Santa Catarina, e um braço fixo nos Estados Unidos desde 2016.
“Criamos um barco novo, reunindo as melhores características da 64 pés com tudo o que considero de melhor em meus quase 30 anos de projetista. Em mercados competitivos, as exigências dos clientes são crescentes. Por isso, é necessário estar sempre inovando, promovendo melhorias e novidades contínuas”, explica Marcio Schaefer.
A nova Schaefer 660 traz grandes diferenciais. A começar por uma entrada independente para a suíte principal na entrada do salão, além de estar equipada com quatro camarotes e três banheiros. O projeto também chama atenção pelo design. As janelas em curva na superestrutura se harmonizam com as linhas do casco e com as janelas.
Sua característica mais marcante, porém, está na sensação de espaço transmitida pelo cockpit. São 20,12 metros de comprimento total, com 5,15 m de boca máxima, ou 6,41 m com as varandas laterais abertas — tendência nos barcos modernos, com acionamento eletro-hidráulico (basta apertar um botão).
A praça de popa é livre, plana e desimpedida. O segredo para isso está na versatilidade dos móveis: o uso de cadeiras deslocáveis, não somente sofás fixos, faz com que o ambiente que já é grande pareça maior ainda.
Com iluminação natural abundante, facilitada pelas enormes janelas laterais e um para-brisa enorme, em duas folhas, que avança até o posto de pilotagem, este barco reflete claramente a intenção do estaleiro em dar leveza aos ambientes de convivência social.
Merece destaque também um detalhe que muitas vezes não aparece claramente nas fotos: a qualidade da construção. Produzida em série 100% pelo sistema de infusão, a Schaefer 660 é uma das melhores lanchas brasileiras em termos de laminação. Isso significa mais robustez, navegação mais eficiente e estética aprimorada.
Entre a praça de popa e o salão há um único e grande living, sem degrau nem interrupção, a não ser uma porta de vidro tripartida que, quando aberta, integra os dois ambientes totalmente. Gostamos muito do móvel de apoio, que fica a bombordo, junto à última folha da porta, que ajuda no serviço. Ao lado, há uma geladeira e um icemaker, além da opção de acrescentar outros acessórios, à escolha do proprietário.
Por sua vez, o flybridge, com espaço para dez pessoas, é uma autêntica área de lazer, do jeito que os brasileiros gostam. As poltronas têm assento largo, como deve ser, e encosto com boa altura para apoiar os braços. Logo mais à frente, há dois sofás, um de frente para o outro, bem ao lado do posto de comando, que tem banco duplo e tudo que se espera de um barco deste nível. Bem, quase tudo, pois faltam os indicadores dos flapes e saídas USB, acessório imprescindível em tempos de telefonia móvel.
Mais atrás, a bombordo, há um sofá em “U” com espaço de sobra para seis pessoas, com uma mesa de refeições dobrável à frente, com porta-copos e pega-mãos. Do outro lado, destaca-se um belo móvel, com grelha elétrica (com botão corta-corrente, para evitar acidentes), pia, geleira, máquina de fazer gelo e lixeira.
Já na popa do flybridge, sob proteção de um guarda-mancebo de quase 1 metro de altura, há dois sofás/espreguiçadeiras fixos, embora essa área também possa ficar inteiramente livre, se o proprietário optar pelo uso de sofás deslocáveis, em vez de fixos. O stobag aqui é item opcional, bem como a tenda — que foi a opção escolhida para a unidade testada por NÁUTICA —, para amenizar o sol nessa área. O teto solar (T-Top de fibra de vidro com toldo retrátil que, cuja altura chega a 2,18 metros) eleva um pouco o centro de gravidade do barco. Porém, no nosso teste, isso não atrapalhou na navegação.
Já na cabine, há um belo salão envidraçado, com um sofá em L a bombordo e outro a boreste, em U, junto a uma mesa com tampo de vidro. Por sua vez, a cozinha fica na entrada do salão, a bombordo. Tem uma bancada em U, pia, fogão de indução de quatro bocas, exaustor, forno elétrico, uma geladeira de 450 litros com freezer, gavetas e muitos armários. Porém, falta ventilação natural nessa área (para isso, é preciso manter aberta a porta tripartida que separa o salão da praça de popa).
Em frente à cozinha, a boreste, destaque para a adega climatizada. O pé-direito é de 2,03 metros e ao longo de todo o salão se distribuem tomadas de 220 v e saídas USB. Para separar os ambientes (a sala de estar da cozinha), o projetista tirou proveito de um truque inteligente: instalou uma tv retrátil, com mecanismo de acionamento elétrico, que desaparece dentro do móvel da divisória da cozinha. Quando aberta, a tv fica voltada para a sala, podendo ser vista de ambos os bordos. O “truque” ficou muito bom e não tirou a vista do mar. Grande sacada!
Com pernoite para oito pessoas, os quatro camarotes ficam no convés inferior, assim como os três banheiros. O acesso à suíte principal — que ocupa todos os 5,15 metros de largura do casco, à meia-nau — é feito por uma entrada privativa a boreste do salão (uma escada individual). A Schaefer 660 é o primeiro barco do esteiro com esse diferencial.
A bombordo, há uma penteadeira com espelho, além de um bom armário. A cama mede 1,95 m x 1,62 m. De frente, camuflada sob um vidro espelhado, fica a tv. No outro bordo, há um sofá para duas pessoas, em que é possível acomodar uma criança deitada.
O banheiro, que ocupa 80% da largura do casco, tem um boxe enorme, além de tudo que se espera de um espaço como esse. E todos os cômodos do deque inferior são contemplados por janelas, quase rentes à linha d’água, com ventilação natural.
Na proa da cabine, com 2,05 m de altura à entrada, fica a suíte VIP, que tem uma cama com 2,01 m x 1,75 m (medida especial, entre queen e king size) e um banheiro exclusivo, com box fechado.
Os outros dois camarotes (servidos por um banheiro social) tem duas camas de solteiro cada um ou uma de casal com 1,90 m x 1,64 m. A altura aqui chega a 2,23 m. Sob a escada que liga o salão ao deque inferior, esconde-se um nicho para uma máquina de lavar e secar roupa.
Na área externa, outro elemento diferenciado dessa 66 pés é uma verdadeira sala ao ar livre na proa — com tenda, caixas de som, pia, porta-copos, porta-objetos, geleira, torres de led e uma mesa desmontável —, em vez do tradicional solário, que por sua vez, pode ser montado com a remoção da mesa, ocupando uma área de 2,13 m x 2,15 m. O detalhe é que, quando não estão sendo usados, todos equipamentos desse gostoso ambiente podem ser guardados em um paiol exclusivo.
Da proa para a popa — espaço tradicionalmente preferido pelo brasileiro —, o pulo do gato do projetista da Schaefer 660 foi a criação de duas aberturas laterais, que aumentam a área livre em 25%, ou quase 1,00 metro para cada bordo.
Na praça de popa, em que se destaca um mesa dobrável com assentos para seis pessoas — e um móvel com placa de gelo, pia, armário e lixeira —, fica o terceiro comando da embarcação, específico para as manobras de atracação, com joystick, além de botão de acionamento do guincho de âncora e de botões da parte de extinção de incêndio, como corte de combustível dos motores, por exemplo.
Ainda na praça de popa, o projetista do barco tira proveito de outro truque inteligente para ganhar espaço: os três primeiros degraus da escada de acesso ao flybridge se elevam, dando acesso ao camarote dos marinheiros. Ali, os tripulantes dispõem de duas camas com 1,85 m de comprimento, ar-condicionado e banheiro com box fechado. A altura supera os 2,00 metros.
O acesso à casa de máquinas pode ser feito tanto pelo camarote dos marinheiros quanto por uma segunda entrada a bombordo na praça de popa. O espaço na casa dos motores é adequado para as manutenções, tanto dos motores quanto do Seakeeper NG9 — sim, a Schaefer 660 está equipada com esse eficiente estabilizador, à venda na Marine Express, que neutraliza o balanço lateral (rolamento) do barco — do gerador e das instalações elétricas, que por sinal têm certificação internacional no padrão norte-americano, uma vez que essa lancha é exportada para os Estados Unidos.
Para a conexão com a plataforma de popa há duas escadas, uma em cada bordo do barco. A plataforma mede 4,65 m de largura por 2,14 m de comprimento, sendo 1,42 m de área submersível, servida por uma escada do tipo robô, de cinco degraus, que se monta automaticamente quando a plataforma desce; porém, falta de um pega-mão nessa escada.
Há ainda um chuveiro com misturador de água quente e fria, paióis, iluminação direta e o infalível móvel gourmet, que no caso desta lancha tem um sistema de embutir, de acionamento elétrico — basta apertar um botão para avançá-lo ou recolhê-lo. Funciona como uma espécie de varanda, com mesa, churrasqueira e água doce. Outro ambiente muito agradável, em uma lancha repleta deles.
COMO A SCHAEFER 660 NAVEGA
O teste da Schaefer 660 foi realizado no Guarujá, em condições ora de mar liso, ora de fortes ondulações, longe da costa, com tanques cheios (2.600 litros de diesel e 900 litros de água doce) e sete pessoas a bordo.
A unidade testada estava equipada com o conjunto Volvo Penta IPS 1050 (dois motores de 800 hp cada), opção de entrada sugerida pelo estaleiro — a Schaefer 660 aceita ainda o Volvo Penta IPS 1 200 (dois motores de 900 hp cada), mas, pelo desempenho apresentado neste teste, os 200 hp a mais são perfeitamente dispensáveis.
Navegando muito próximo da velocidade de cruzeiro econômico (que foi de 21,2 nós, a 1 800 rpm, com o consumo de 192 litros/horas) saímos 24 milhas fora da costa e efetuamos várias manobras.
Mesmo com o mar batido, e com casco enfrentando ora ondulações de proa, ora ondulações de popa, a lancha Schaefer 660 foi muito bem. Já próximo à costa, nas navegações de controle, a velocidade máxima bateu a casa dos 30 nós, com os motores a 2 290 giros.
O detalhe é que o casco recebeu a pintura envenenada na véspera do teste, o que produz uma pequena perda de velocidade. É bastante provável que a Schaefer 660 alcance, com carga média, 32 nós de máxima, sem maiores esforços.
A velocidade de cruzeiro rápido ficou em 24,9 nós, a 2 000 rpm. O ângulo de ataque foi excelente: a lancha investe bem de proa, além de o casco ter um V profundo na popa, de 17 graus, próprio para enfrentar mar grande.
O posto de comando no flybridge, com visão de 360 graus, oferece duas telas de 9 polegadas Raymarine Axiom (clique para ver mais) e sistema de monitoramento Glass Cockpit Volvo Penta, que oferece controle total da navegação, com dados do motor, piloto automático e joystick, além de integrar a carta náutica, o piloto automático, o radar e a sonda.
No comando inferior, a posição de pilotagem também é muito boa, por conta do para-brisa inclinado e dos dois bancos individuais elevados, o que ajuda na visibilidade tanto para a proa, para a popa e para os bordos.
Todos os ajustes desses bancos são elétricos, a ergonomia é excelente e o acabamento, impecável. Além disso, as janelas dos dois lados abrem e fecham por acionamento elétrico, o que facilita a comunicação durante as manobras de bordo feitas a partir do comando interno.
No comando interno, as telas multifunção touchscreen são de 12 polegadas, modelo Raymarine Axiom 12 (clique para ver mais). O comandante pode personalizar os layouts e as visualizações para escolher onde, quando e quais informações devem ser exibidas. A customização é feita pela Marine Express.
Entre os manetes de aceleração dos motores e o joystick há um bom espaço para os botões de acionamento dos flapes. Porém, falta um mostrador indicativo de nível desse equipamento, que tem a função de manter o barco aprumado. Em resumo, a navegação é um dos pontos fortes da Schaefer 660, que se destaca pela riqueza do design, sem descuidar do conteúdo.